Projeto de Inclusão e Pertencimento apresenta o Cinevozes, com o filme Njinga, Rainha de Angola na Escola de Enfermagem da USP

Participantes da primeira edição “Cinevozes: filmes além das fronteiras”, com o filme: “Njinga, Rainha de Angola”. O evento foi realizado na sala Profa. Edith de Magalhães Fraenkel da EEUSP.

No último dia 23/04/2025, ocorreu na Escola de Enfermagem da USP a primeira edição do Cine Debate da mostra cultural “Cinevozes: filmes além das fronteiras”. Parte do Projeto de Inclusão e Pertencimento realizado no Quadrilátero da Saúde: “De braços abertos: acolhimento de estudantes imigrantes na perspectiva de gênero, raça e classe social”, o evento foi coordenado pela professora Nayara Gonçalves Barbosa, do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da unidade.

Nesta primeira edição, duas das alunas angolanas da EEUSP, vinculadas ao Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), Dorcas Wadiwa e Cármen Pambassangue, foram responsáveis pela escolha do filme e mediação do debate com os demais participantes.

O filme da vez foi “Njinga, Rainha de Angola”, que retrata a história de uma figura histórica importante não só para o continente africano, mas para o mundo inteiro. Njinga Mbande foi rainha da atual região de Angola no século XVI e lutou contra a colonização portuguesa na região.

Após o término do filme, o debate foi aberto e mediado pelas alunas angolanas. Nesse momento, brasileiros e imigrantes presentes puderam compartilhar entre si reflexões sobre o filme — e mais do que isso: reflexões atuais sobre os impactos da colonização e o desconhecimento sobre a diversidade cultural no continente africano também vieram à tona.

O resgate da identidade singular de cada povo, bem como o enfrentamento à discriminação, foram tópicos levantados em quase todas as falas. Entender que a história que conhecemos deve sempre ser questionada é o primeiro passo para o reconhecimento de outras perspectivas.

A Comissão de Cooperação Internacional da Escola de Enfermagem da USP (CCInt-EE) apoia a iniciativa, que vai se desdobrar em outras atividades conjuntas de integração entre os próprios alunos internacionais, como encontros mensais de trocas de saberes culturais do Brasil e de outros países.

Essa proposta apresenta grande potencial para apoiar o processo de integração dos estudantes ao curso e à Universidade e se alinha com o que é proposto pelo Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) e pelo Ministério da Educação (MEC), e tem por objetivo promover a cooperação educacional, científica e tecnológica entre o Brasil e outros países, além de contribuir para a internacionalização da educação superior brasileira. Na EE, é acompanhado pela Comissão de Curso do bacharelado. A iniciativa está ainda em consonância com o que tem se proposto discutir no processo de reorganização curricular voltado para temas transversais, como a diversidade étnico-racial.

Além da CoC Bacharelado, a Comissão de Inclusão e Pertencimento também acompanha os alunos internacionais, especialmente recepcionando-os e apontando os recursos de permanência da USP, como bolsa-alimentação, PAPFE (Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil) e apoio das assistentes sociais da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento.

O projeto “De braços abertos: acolhimento de estudantes imigrantes na perspectiva de gênero, raça e classe social” foi selecionado entre 271 inscritos no edital do Programa Unificado de Bolsas da USP, que em 2024 contemplou, pela primeira vez, a vertente Inclusão e Pertencimento. As bolsistas são da EEUSP e da FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, oportunizando um trabalho “Interunidades USP”.

Será realizada uma programação de filmes mensalmente. A próxima edição do “Cinevozes: filmes além das fronteiras” irá ocorrer no dia 29/05/2025, quinta-feira, às 18 horas, e o filme a ser debatido será “Flee – Nenhum lugar para chamar de lar”, para introdução do debate sobre a questão do refúgio. A participação é gratuita.

O instagram do projeto é: @bracosabertosusp

Estudantes Angolanas da EEUSP: Dorcas Wadiwa e Cármen Pambassangue, responsáveis pela escolha do filme e mediação do debate.
Bolsistas do Programa Unificado de Bolsas, “De braços abertos: acolhimento de estudantes imigrantes na perspectiva de gênero, raça e classe social”.

Maria Eduarda de Oliveira Alves, graduanda em Ciências Sociais pela FFLCH/USP. Bolsista do Programa Unificado de Bolsas vertente Inclusão e Pertencimento: “De braços abertos: acolhimento de estudantes imigrantes na perspectiva de gênero, raça e classe social” e estagiária do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI Oriana Jara)

Viviane Quispe, aluna do curso de graduação da EEUSP, turma 78/79. Bolsista do Programa Unificado de Bolsas vertente Inclusão e Pertencimento: “De braços abertos: acolhimento de estudantes imigrantes na perspectiva de gênero, raça e classe social”.

Depoimentos dos presentes:

“Foi uma experiência incrível e ao mesmo tempo revigorante deu para voltar no tempo e lembrar de uma das grandes figuras angolanas que lutou contra o colonialismo, demonstrando também o interesse que o povo brasileiro tem em conhecer a cultura angolana, prova disso foi a presença dos brasileiros que lá se fizeram presente, demonstrando que devemos fazer do passado uma referência, para mudarmos o futuro e o estereótipo que se tem de África no geral e de em Angola de modo particular, em suma foi uma experiência que com certeza iria valer a pena voltar a viver!” – Carmén da Glória Candele Pambassangue, estudante imigrante da EEUSP, turma 82.

“Participei da sessão de filme sobre a rainha Njinga, rainha do meu país Angola. Para mim como uma das mediadoras foi fenomenal e épico falar sobre o meu país e ouvir também dos meus colegas, amigos e professores qual a sua visão sobre Angola, sobre África. O sentimento que ficou foi mesmo de gratidão pela oportunidade, e que continuemos impactando com histórias, não só de Angola… pois o Cinevozes acabou me devolvendo a voz que eu já nem sabia que tinha.” Dorcas Maria Wadiwa Adriano, estudante imigrante da EEUSP, turma 82.

“O filme retrata a trajetória da rainha de Angola, Njinga, uma mulher preta, líder, estrategista e determinada, que enfrentou o domínio português com coragem, inteligência, força e diplomacia para tentar salvar o seu povo, me levando a refletir muito sobre o lado da História que não ouvimos, a História que não aprendemos na escola – e o quanto ela é fundamental para entendermos o mundo em que vivemos hoje.” – Mariana Belmiro Cosmo do Rosário, estudante da EEUSP, turma 82.

“Durante a roda de conversa, refletimos sobre o resgate da nossa identidade cultural e a importância de revisitar a história do povo angolano, especialmente através da figura inspiradora da Rainha Njinga, que teve um papel fundamental na resistência à escravização e na luta pela libertação do povo africano. Também discutimos como o processo de colonização e a influência ocidental têm contribuído para o apagamento das nossas línguas maternas e formas de expressão, o que nos leva a uma necessidade urgente de preservar essas raízes.” – Franco Guimarães da Silva, participante angolano e trabalhador do Consultório na Rua

“No geral, a experiência foi extremamente rica e traz à tona como é fundamental entender a história por uma visão ampla visando compreender suas diferentes facetas, demonstrando que não há uma verdade única, e também seus impactos na atualidade perante o apagamento da cultura dos diversos povos africanos e a busca por sua reestruturação.” – Davi Torres, estudante da EEUSP, turma 82