Professoras da EEUSP se dedicam a cuidar da população de rua no centro de São Paulo

Professoras e alunos da Universidade desenvolvem um projeto de extensão no Consultório do Papa, que atende e escuta moradores de rua na região da Luz, na região central da cidade

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“Aqui não tem uma separação, todo mundo senta à mesa, todo mundo come junto”, diz Sheila Lachtim, professora da EE. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Texto: Isabela Nahas*
Arte: Jornal da USP
 

Na área central da cidade de São Paulo, no bairro da Luz, um grupo de professoras da Escola de Enfermagem (EE) da USP e alunos da Universidade fazem acolhimento a pessoas em situação de rua. A atividade de extensão envolve grupos educativos, rodas de conversa, atendimento de enfermagem e organização do espaço denominado Consultório do Papa, um contêiner instalado na Casa de Oração do Povo da Rua, localizada na rua Djalma Dutra, número 3, no bairro da Luz. Os 16 estudantes são dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Terapia Ocupacional e Políticas Públicas. 

“A maioria dos que já tem uma certa idade não nasceram na rua. Então, eles têm uma história anterior à rua. De onde eles vieram? Por que foram pra rua? Eu costumo dizer sempre que nós temos uma sociedade doente. E [a rua] é um espelho que está refletindo a realidade da sociedade”, diz Ana Maria Alexandre, coordenadora da Casa de Oração.

O Consultório do Papa tem, em sua parte interna, duas salas de atendimento com macas, uma delas com cortina e a outra com porta, para situações de privacidade. Os armários em volta das paredes armazenam materiais de primeiros socorros e fichas de atendimento, escritas à mão. Ao redor do contêiner, é possível ver a imagem ou a sombra do Papa Francisco, que inspirou a criação do local. Para passar pelas grades que cercam o local, é preciso chamar o porteiro.

A ideia de abrir o consultório foi do padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua. A participação da USP começou quando um grupo de docentes fez contato com o padre para iniciar a atividade de extensão “Cuidar para transformar: a intersecção entre território, violências e saúde mental”.  

A resposta foi rápida: o consultório foi inaugurado em 19 de fevereiro e, no dia 21, elas realizaram o primeiro atendimento.

Imagem: Mulher usando óculos, branca, cabelos amarrados, vestindo camiseta branca e colar colorido
Maria Fernanda Terra, professora da EE no Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De acordo com as professoras, a primeira violência que as pessoas de rua sofrem é Estatal, pelo próprio fato de não terem onde morar. As outras ocorrem ao longo do tempo e vão desde olhares de desprezo até agressões físicas. Quando tentam buscar assistência à saúde, essa população, por muitas vezes, não tem acesso aos serviços.

O consultório vem, então, “com a proposta de tentar olhar de uma perspectiva mais longitudinal as necessidades das pessoas em situação de rua” e de reverter a “vivência de serem vistos como marginais”, explica Maria Fernanda. As professoras contam que, nos seis meses em que estão trabalhando no Consultório do Papa, o padre Júlio relatou a elas mortes de pessoas em situação de rua que, para ele, ocorreram por negligência dos serviços públicos de saúde.

O Consultório do Papa realiza um primeiro atendimento e escuta daqueles que procuram amparo para, caso necessário, encaminhá-los a um serviço de saúde que tenha melhores condições para tratar cada um. O local não possui o objetivo de realizar um atendimento completo, mas, sim, de criar uma rede de apoio e de ser uma ponte entre paciente e serviço que verifica se os direitos das pessoas em situação de rua estão sendo garantidos. A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e a Unifesp também participam da ação.

Cuidar para transformar

Além da saúde física, o consultório se atenta para a saúde mental. “Às vezes, eles vem com um arranhadinho e falam assim, ‘eu arranhei isso aqui ontem’. Perguntamos ‘mas como é que você arranhou’? Aí ele começa a contar a história dele. Esse momento de escuta também é muito importante para eles”, explica Sheila.

Os estudantes da USP entraram no projeto a partir da atividade de extensão.. Todos realizam a escuta daqueles que buscam atendimento e, em outras atividades, são divididos a depender da especialização de cada um. As professoras responsáveis realizam os atendimentos mais complexos e supervisionam os alunos.

“A nossa ideia nas atividades com os alunos é pensar esse itinerário terapêutico dessas pessoas [em situação de rua]. De saber onde estão sendo atendidos, onde percebem que são bem recebidos e conseguem um cuidado digno e onde vão e não conseguem atendimento”, explica Jaqueline. Maria Fernanda comenta que eles estão realizando um mapeamento dos serviços de saúde locais pela internet: “a ideia é a gente chegar lá [nos serviços de saúde] para, além de ver o que está no site, ver o que eles falam por telefone e ir até eles”.

Imagem: Mulher branca, com cabelos encaracolados à altura dos ombros usando camiseta bege
Jaqueline Lemos, professora da EE no Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Território e violências

O primeiro paciente do Consultório do Papa foi um caso relacionado à violência e, durante o atendimento, o jovem foi encaminhado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. Ele voltou no semana seguinte, relatando que havia quebrado uma costela. Recebeu medicação para dor, mas não pôde levar mais remédio consigo porque, segundo aqueles que o atenderam, ele iria trocar o remédio por drogas. 

A dor de uma fratura na costela é intensa e pode durar mais de um mês. Geralmente, os medicamentos prescritos para amenizar essas dores são fortes, como opióides. Como, de acordo com o relato do paciente, ele não recebeu nenhuma imagem de exame nem um documento de alta hospitalar, não há informações detalhadas sobre seu caso, como quantas costelas ele quebrou ou o remédio que recebeu. As professoras do projeto dizem que esse caso de negligência é apenas um de muitos.

Sheila comenta que há o imaginário social em que se entende que “tudo vira moeda de troca para droga. E, às vezes, a queixa dessa pessoa em situação de rua é menos importante, menos valorizada. Isso é uma coisa muito triste”.

Imagem: Mulher sorridente, cabelos curtos, trajando camiseta branca com listras finas
Sheila Lachtim, professora no Departamento de Enfermagem e Saúde Coletiva – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Não é um caminho sem volta”

O Consultório do Papa trabalha na perspectiva da saúde coletiva, que considera a ideia “de escutar, de pensar, junto com os alunos, como a gente constrói, e usando essa tecnologia de tentar dar visibilidade para a própria violência e para os sofrimentos que decorrem dela”, afirma Maria Fernanda. As estratégias de escuta e atendimento são construídas na prática e coletivamente.

Um exemplo de situação que se opôs ao que comumente se faz nos sistemas de saúde tradicionais é com relação ao uso prejudicial de drogas. As professoras afirmam que, nas experiências que tiveram no consultório, aqueles que pediam ajuda para combater o vício recusavam o uso de medicamentos. “Trabalhar com medicalização para consumo prejudicial de drogas é uma coisa que parece que não surte muito efeito nessa população específica, pois é, para eles, como substituir uma droga por outra”, diz Jaqueline.

Com essa proposta, o projeto pretende desfazer os estereótipos com relação às pessoas em situação de rua. Os participantes acreditam e viram casos em que a ajuda foi capaz de tirar pessoas da precariedade. “É um caminho que o pessoal fala que chega uma hora que é sem volta. E eu costumo dizer que não. Às vezes, lá no fundo do poço, você pega força pra dar um pulo e sair”, comenta Ana.

Para mais informações, entre em contato com

Profa Jaqueline Lemos: jaquelemos@usp.br

Profa Sheila Lachtim: shamf@usp.br

Profa Maria Fernanda Terra: mfterra@usp.br

*Estagiária sob supervisão de Antonio Carlos Quinto

Presidente
Prof. Dr. Antônio Fernandes Costa Lima – 29/05/2023 a 26/05/2025

Vice-Presidente
Prof. Dr. Divane de Vargas – 29/05/2023 a 26/05/2025

Representantes do Departamento ENC
Prof.ª Dr.ª Angela Maria Geraldo Pierin (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof.ª Dr.ª Maria de Fatima Fernandes Vattimo (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes do Departamento ENO
Prof.ª Dr.ª Patricia Campos Pavan Baptista (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof.ª Dr.ª Valéria Marli Leonello (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes do Departamento ENP
Prof.ª Dr.ª Maiara Rodrigues dos Santos (Titular) – 07/02/2022 a 06/02/2025
Prof.ª Dr.ª Caroline Figueira Pereira (Suplente) – 07/02/2022 a 06/02/2025

Representantes do Departamento ENS
Prof.ª Dr.ª Suely Itsuko Ciosak (Titular) 11/09/2023 a 10/09/2026
Prof. Dr. Alfredo Almeida Pina de Oliveira (Suplente) 11/09/2023 a 10/09/2026

Representantes da Congregação (5º Membro)
Prof.ª Dr.ª Renata Eloah de Lucena Ferretti-Rebustini (Titular) – 15/10/2021 a 14/10/2024
Prof.ª Dr.ª Maria Amélia de Campos Oliveira (Suplente) – 15/10/2021 a 14/10/2024

Representante Discente
Thamires de Oliveira Rocha (Titular) – 06/02/2023 a 05/02/2024
Jéssica Garcia (Suplente) – 06/02/2023 a 05/02/2024

Observação:
– mandato dos membros: 3 anos – permitida a recondução
– mandato dos Representantes Discentes da Pós-Graduação: 1 ano

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