O Núcleo de Enfermagem Baseada em Evidências (NUEBE), criado em abril de 2013, está sediado no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP), sendo constituído por enfermeiros do HU-USP e docentes da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). As duas Instituições adotam o modelo de Articulação Acadêmico-Assistencial para operacionalização da tríade ensino, pesquisa e extensão, cooperando para promoção de interesses mútuos.
Como exemplo dessa parceria, estabeleceu-se o convênio internacional entre HU-USP, EEUSP e JBI-Austrália, constituindo o “Centro Brasileiro para o Cuidado à Saúde Baseado em Evidências: Centro de Excelência do JBI (JBI-Brasil)”, no qual os enfermeiros do HU-USP participam como pesquisadores principais e adjuntos, além da vice-diretora do JBI-Brasil ser enfermeira do HU-USP.
Desde o início, houve a compreensão de que para incluir no cotidiano dos profissionais de enfermagem o estilo de pensamento de atualização contínua e tomada de decisão clínica baseada em evidência, seria fundamental a criação de uma “estrutura” que permitisse aos enfermeiros e técnicos de enfermagem experimentar fazer perguntas sobre cuidados rotineiros, buscar respostas e construir protocolos baseados nas melhores práticas. Esse “laboratório vivo” permitiu também que os próprios enfermeiros se “educassem”, ampliando conhecimentos anteriores, e educassem os colegas, técnicos de enfermagem e residentes de enfermagem, por meio de cursos e tutorias, no modelo de atuação baseado em evidência.
O NUEBE surgiu, também, como suporte ao Modelo de Enfermagem em Prática Avançada, criando uma cultura de trabalhar com Prática Baseada em Evidências (PBE), procurando despertar nos profissionais uma atitude reflexiva ao prestar os cuidados, questionando se aquela realmente é a melhor prática, se está adequada àquele paciente, se traz os melhores resultados e utiliza os recursos de maneira adequada.
Neste sentido, vem reescrevendo os protocolos assistenciais, baseados nas melhores práticas e implementando-os nos diferentes setores do hospital. Implementar evidências não se trata somente de mudar a prática em si, mas também mudar atitude e comportamento das pessoas envolvidas e o sistema organizacional. Por isso, cada processo de implementação é particularmente diferente, pois cada local apresenta peculiaridades em suas estruturas física e organizacional, postura e formação da equipe, características das pessoas ali atendidas, recursos disponíveis, entre outros.
Assim, os principais objetivos do NUEBE são: promover a cultura da PBE; educar profissionais sobre o cuidado à saúde baseado em evidência; oferecer workshops sobre implementação de evidência; contribuir para a elaboração de protocolos de enfermagem baseados em evidências e; consolidar o uso das estratégias de intervenção relacionadas às melhores práticas no trabalho diário dos profissionais de enfermagem.
Para alcançar os objetivos do NUEBE, inicialmente, foram oferecidos workshops de duas horas, totalizando 14 encontros, para os profissionais de enfermagem sobre os princípios da PBE, com mais de 350 participantes.
Criou-se também um espaço do NUEBE no site do HU-USP, onde profissionais e alunos poderiam expressar suas dúvidas sobre o cuidado e serem auxiliados por membro do NUEBE na busca por respostas no modelo da PBE.
Também, foram oferecidos programas de capacitação de 74h para os enfermeiros, totalizando seis cursos ao longo desses anos, com mais de 70 enfermeiros capacitados, objetivando a busca por evidências nas bases de dados científicas, a análise crítica dos achados e a construção de protocolos de enfermagem baseados em evidências.
Os enfermeiros que ofereceram os workshops e programas de capacitação foram profissionais do NUEBE, capacitados nos cursos de revisão sistemática e/ou implementação de evidências do JBI. Dois enfermeiros foram realizar os cursos Train-the-Trainer of the Evidence Implementation Training Program (EITP) e Comprehensive Systematic Review Training Program (CSRTP) na Austrália e Estados Unidos da América, respectivamente, para assim tornarem-se treinadoras acreditadas pelo JBI e poderem apoiar o JBI-Brasil na capacitação dos profissionais sobre o cuidado baseado em evidências. Atualmente, o HU-USP tem duas treinadoras do curso CSRTP e quatro treinadoras do curso EITP.
Uma vez difundida a cultura da PBE no HU-USP, iniciou-se a fase de da implementação da evidência na prática clínica, seguindo a metodologia do JBI.
Como resultados da experiência, vários projetos foram implementados no HU-USP em diferentes unidades de internação, transformando a prática assistencial e trazendo melhores resultados aos pacientes (Quadro 1).
Quadro 1 – Projetos de implementação de evidência aplicados à prática clinica. HU-USP, 2021.
Para exemplificar o impacto da transformação na prática, citamos o projeto de implementação de melhores práticas “Manutenção de CVC na UTI”. A alta taxa de infecção de corrente sanguínea associada ao CVC foi a principal motivação para a execução deste projeto. Portanto, o desenvolvimento e implementação de um protocolo baseado nas melhores evidências disponíveis visavam principalmente a redução das taxas de infecção de corrente sanguínea associadas ao CVC. A equipe do projeto de implementação foi composta por enfermeiros da UTI, do SEQ, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e do DE.
As intervenções para melhorar a adesão às melhores práticas na manutenção do CVC foram: (i) protocolo baseado em evidências sobre a manutenção do CVC; (ii) atualização do processo de enfermagem eletrônico, estabelecendo diagnósticos, resultados, intervenções e atividades de enfermagem relacionadas à manutenção do CVC; (iii) programa educacional on-line; (iv) reuniões presenciais para capacitar a equipe de enfermagem; (v) simulação sobre higiene das mãos usando a caixa pedagógica; (vi) cartazes informativos sobre as melhores práticas na manutenção de cateteres.
Apesar de barreiras encontradas à implementação das melhores práticas, todas essas estratégias resultaram em uma redução na incidência de infecção da corrente sanguínea associada ao CVC a uma taxa de 0%, permanecendo nesse nível por seis meses.
Recentemente, destacamos o envolvimento dos residentes de enfermagem nos projetos de implementação de evidências, constituindo-se nos trabalhos de conclusão de residência. E ainda, os enfermeiros membros do NUEBE atuam na produção de síntese de evidências, desenvolvendo ou colaborando na realização de revisões sistemáticas (Quadro 2).
Quadro 2 – Revisões sistemáticas produzidas com a colaboração de enfermeiros do NUEBE. HU-USP, 2021.
Os projetos de implementação de evidências, considerados como atividades para a melhoria contínua da qualidade assistencial, contam com o envolvimento da equipe, profissionais com habilidades de liderança clínica, o apoio da gestão e da direção da instituição.
Contextos com essas características facilitam a implementação de evidências e a sustentabilidade das mudanças envolvidas, reiterando a importância de se criar uma cultura institucional de trabalhar com prática baseada em evidências. Outro facilitador para o sucesso de um projeto de implementação é quando a necessidade de mudar a prática é sentida pelos próprios profissionais daquele setor, minimizando uma das grandes barreiras quando se trata de mudar a prática clínica: a resistência a mudanças.
E, tratando-se de implementação de evidências, a sustentabilidade das mudanças também é um grande desafio, reiterando a necessidade de um ciclo contínuo de auditorias clínicas, como prevê o modelo do JBI.
Em 2019, o HU-USP recebeu o selo “JBI Endorsement Organization”, reconhecendo o seu comprometimento em oferecer as melhores evidências para os seus pacientes. Vale ressaltar, que essa certificação é a única recebida por uma instituição de saúde da América do Sul.
O NUEBE foi o primeiro centro de enfermagem baseada em evidência organizado pela enfermagem em um hospital público no Brasil, além disso ancorou a elaboração de projeto junto ao COREN-SP que produziu separatas sobre Construção de Protocolos Assistenciais de Enfermagem Baseados em Evidência14 e Implementação de Evidência15, vídeo aula e GIFS sobre o tema PBE, treinamentos sobre protocolos de enfermagem e PBE para fiscais do COREN-SP e cursos para o público leigo, o que comprova a possibilidade de replicação da experiência.
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4. Sichieri K, Iida LIS, Menezes IRDSC, Garcia PC, Santos TR, Peres E, Shimoda GT, Maia FOM, Secoli SR, Püschel VAA. Central line bundle maintenance among adults in a university hospital intensive care unit in São Paulo, Brazil: a best practice implementation project. JBI Database System Rev Implement Rep. 2018 Jun;16(6):1454-1473. doi: 10.11124/JBISRIR-2017-003561. PMID: 29894411.
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9. Nishi FA, de Oliveira Motta Maia F, de Souza Santos I, de Almeida Lopes Monteiro da Cruz D. Assessing sensitivity and specificity of the Manchester Triage System in the evaluation of acute coronary syndrome in adult patients in emergency care: a systematic review. JBI Database System Rev Implement Rep. 2017 Jun;15(6):1747-1761. doi: 10.11124/JBISRIR-2016-003139. PMID: 28628525.
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11. De Rezende HA, Melleiro MM, Shimoda GT. Interventions to reduce patient identification errors in the hospital setting: a systematic review protocol. JBI Database System Rev Implement Rep. 2019 Jan;17(1):37-42. doi: 10.11124/JBISRIR-2017-003895. PMID: 30629041.
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15. Pimenta, C A de M. Guia para a implementaçãode protocolos assistenciais de enfermagem: integrando protocolos, prática baseada em evidência e classificações de enfermagem. São Paulo: Coren-SP, 2017. Disponível em: https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2010/01/guia_implementacao_protocolos_assistenciais_enferenfer-integrando_protocolos_pratica_baseada_em_evidencia_classificacao_enfermaenf.pdf
